- NÃO PRECISA GRITAR, EU NÃO SOU SURDO!
Reclama Seu Paulo, após sua esposa, Dona Judite, pedir pela QUARTA vez que ele passe o arroz.
- O problema é que você não ouve.
- Eu ouço muito bem, só não entendo o que vocês dizem.
Conformada, Dona Judite inspira e encara o prato, a fim de encerrar a discussão.
Enquanto isso, o apresentador do telejornal, a música do celular do neto e um choro infantil vindo de outro cômodo se confundem num RUÍDO INTRADUZÍVEL.
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Um dos primeiros sinais de perda auditiva relacionada ao envelhecimento é o surgimento de DIFICULDADE na percepção de sons AGUDOS em ambientes com ruídos de fundo. Esta condição - conhecida como PRESBIACUSIA- é um dos principais fatores de risco para desenvolvimento de DOENÇA DE ALZHEIMER.
Embora a idade tenha impacto no surgimento da presbiacusia, doenças e hábitos como diabetes, tabagismo, uso excessivo de álcool e cafeína podem acelerar o processo.
Apesar de poder existir algum grau de dificuldade para ouvir sons de fraca intensidade, o PRINCIPAL PROBLEMA reside na freqüência dos sons, principalmente os agudos. VOZES FEMININAS, ALARMES, ASSOBIOS são alguns exemplos.
Assim, GRITAR com o idoso não vai melhorar sua comunicação com ele. Em alguns casos PODE PIORAR, pois pode haver, paradoxalmente, uma maior sensibilidade a sons fortes, desencadeando dor de ouvido e irritabilidade.
A dificuldade auditiva pode gerar implicações sérias para a vida do paciente, que pode se sentir desmotivado a continuar com suas atividades diárias. Não é raro ouvirmos relatos de idosos que FINGEM ENTENDER O QUE FOI DITO, POR SE SENTIREM ENVERGONHADOS em perguntar novamente ou por, simplesmente, não quererem incomodar. Ansiedade, irritabilidade, depressão e isolamento social são algumas complicações.
Por esses motivos e por ser um importante fator de risco para o advento da DOENÇA DE ALZHEIMER, o diagnóstico e tratamento precoce podem impactar drasticamente no bem-estar do idoso. O uso de próteses auditivas e terapia com fonoaudiólogo para treinar a audição podem ser grandes aliados. Mas, também devemos aprender a nos comunicar melhor com os idosos com déficit auditivo:
- Sempre alerte o ouvinte antes de iniciar a fala;
- Muito mais efetivo do que falar ao pé do ouvido, é falar de frente para o idoso, para que ele utilize o apoio visual e consiga fazer a leitura facial;
- Falar um pouco mais forte pode ajudar, mas não grite. Se não for entendido, fale de outra maneira, valendo-se de outras palavras;
- Expresse-se devagar, acentuando suavemente as sílabas importantes; utilize frases curtas.
- Não fale comendo ou mascando chicletes.
Ainda é bastante freqüente o diagnóstico de presbiacusia ocorrer com anos de atraso, por desvalorização dos sintomas iniciais. Portanto, busque auxílio profissional.
Em MUITOS CASOS, é possível melhorar a capacidade de ouvir e entender o que é dito. Mas SEMPRE é possível melhorar a comunicação.
Humberto Amadori – médico geriatra
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